O governo britânico anunciou recentemente um forte aumento de gastos públicos pra conter a crise, incluindo corte de impostos. A oposição reclamou desesperadamente. A mídia e as pessoas se mostraram extremamente preocupadas com o futuro. Afinal, é muito simples: queda de impostos significa que o governo arrecada menos agora. Sendo assim, no futuro o governo precisará compensar isso, com aumento forte de impostos. Ou então, com redução de gastos em outras áreas do governo, o que não parece ser o caso no momento.
Isso me lembra que aqui existe uma visão muito clara de quem paga por qualquer gasto do governo somos nós, os contribuintes (taxpayers). Discute-se isso em cima de todo e qualquer anúncio do governo. Seja construir uma ponte, seja dar curso "gratuito" de inglês pra imigrantes, seja dar mais dinheiro para as famílias pobres (bolsa-família da vida), seja aumentar salário dos servidores... em todos os casos há sempre uma discussão imensa sobre o quanto isso é realmente necessário e quanto isso vai custar ao taxpayer.
Interessante...
Todo o mundo - literalmente - reclamou do governo britânico nessa. Gastar mais dinheiro durante uma crise, que seria momento de economizar? Muitos governos do mundo ridicularizando o primeiro-ministro Gordon Brown.
Mas hoje anunciaram que a Europa toda vai fazer o mesmo (leia aqui).
Muito interessante...
...porque tava todo o mundo dizendo que Gordon Brown era maluco, mas estando certo ou errado, o fato é que que realmente está liderando o mundo no momento. Enquanto o Bush baba na gravata como sempre e Obama não tem poder ainda.
Hoje o governo brasileiro fez basicamente a mesma coisa: redução de receita do governo por meio da diminuição de impostos (leia aqui). Estou de longe, mas até agora lendo nos jornais só vi gente comemorando que as pessoas e empresas vão pagar menos impostos. Ninguém até agora pensou que isso vai ter que ser compensado, ou com aumento de impostos no futuro ou com redução dos gastos do governo. Reduzir gastos o Lula não fez (distribuiu aumento de salário pro funcionalismo e outras coisas) e parece que não pretende fazer. Acho que o Brasileiro não tem mesmo mesma visão de que o contribuinte é o "dono" do governo.
Mais interessante ainda...
Em Setembro o Lula dizia que crise não afetaria o Brasil e que era só marola. Em Outubro estava evidente que a crise afeta o Brasil, mas ele disse que NUNCA faria pacote contra a crise (leia aqui). Ora bolas! As medidas conjuntas de hoje - 2 meses depois - de redução de vários impostos ao mesmo tempo (IOF, IPI, IRPF...) mais outras medidas que já vieram e virão (do governo e do BC) seria o que então, cara pálida? O mundo está fazendo o mesmo e chama de "pacote pra conter a crise".
Mais interessante de tudo...
Lula tem 70% de aprovação dos brasileiros. Oras, pra mim um líder que diz uma coisa um dia e se contradiz absurdamente no outro em um momento tão importante me dá motivos suficientes de não confiar em sua competência, e portanto não aprová-lo (ou no mínimo não endeusá-lo).
Ou será que não só não temos memória (pra lembrar do companheiro Dirceu e do mensalão) nem planejamento futuro (o conceito do "taxpayer"), como também não enxergamos nem o que acontece no presente?
A gente não pode deixar o medo de a oposição ser pior influenciar nosso conceito real de qualidade. Só porque antes éramos cachorro magrelo de rua passando frio e fome não significa que o mendigo bêbado, que nos deu um caixote pra dormir e migalhas de pão mofado pra comer, seja um excelente dono!
Até digo que a equipe do governo tem gente que sabe do que está falando. Mas Lula pra mim passa a mesma (falta de) confiança que o Bush. Com a diferença que ele pelo menos não arranja guerra do nada...
PS: Falando em guerra, esqueci de comentar no post anterior: reportagem no Rio de Janeiro mostra que há 1 tiroteiro a cada 2 dias na cidade. E em média tem quase 1 pessoa tomando tiro por dia na cidade (150 mortos e 163 feridos = 313 vitimas em um ano de 365 dias). Enquanto isso, começaram a implantar o esquema de aluguel de bicicleta baseadas na de Paris (que eu havia comentado aqui no blog).
Isso me lembra que aqui existe uma visão muito clara de quem paga por qualquer gasto do governo somos nós, os contribuintes (taxpayers). Discute-se isso em cima de todo e qualquer anúncio do governo. Seja construir uma ponte, seja dar curso "gratuito" de inglês pra imigrantes, seja dar mais dinheiro para as famílias pobres (bolsa-família da vida), seja aumentar salário dos servidores... em todos os casos há sempre uma discussão imensa sobre o quanto isso é realmente necessário e quanto isso vai custar ao taxpayer.
Interessante...
Todo o mundo - literalmente - reclamou do governo britânico nessa. Gastar mais dinheiro durante uma crise, que seria momento de economizar? Muitos governos do mundo ridicularizando o primeiro-ministro Gordon Brown.
Mas hoje anunciaram que a Europa toda vai fazer o mesmo (leia aqui).
Muito interessante...
...porque tava todo o mundo dizendo que Gordon Brown era maluco, mas estando certo ou errado, o fato é que que realmente está liderando o mundo no momento. Enquanto o Bush baba na gravata como sempre e Obama não tem poder ainda.
Hoje o governo brasileiro fez basicamente a mesma coisa: redução de receita do governo por meio da diminuição de impostos (leia aqui). Estou de longe, mas até agora lendo nos jornais só vi gente comemorando que as pessoas e empresas vão pagar menos impostos. Ninguém até agora pensou que isso vai ter que ser compensado, ou com aumento de impostos no futuro ou com redução dos gastos do governo. Reduzir gastos o Lula não fez (distribuiu aumento de salário pro funcionalismo e outras coisas) e parece que não pretende fazer. Acho que o Brasileiro não tem mesmo mesma visão de que o contribuinte é o "dono" do governo.
Mais interessante ainda...
Em Setembro o Lula dizia que crise não afetaria o Brasil e que era só marola. Em Outubro estava evidente que a crise afeta o Brasil, mas ele disse que NUNCA faria pacote contra a crise (leia aqui). Ora bolas! As medidas conjuntas de hoje - 2 meses depois - de redução de vários impostos ao mesmo tempo (IOF, IPI, IRPF...) mais outras medidas que já vieram e virão (do governo e do BC) seria o que então, cara pálida? O mundo está fazendo o mesmo e chama de "pacote pra conter a crise".
Mais interessante de tudo...
Lula tem 70% de aprovação dos brasileiros. Oras, pra mim um líder que diz uma coisa um dia e se contradiz absurdamente no outro em um momento tão importante me dá motivos suficientes de não confiar em sua competência, e portanto não aprová-lo (ou no mínimo não endeusá-lo).
Ou será que não só não temos memória (pra lembrar do companheiro Dirceu e do mensalão) nem planejamento futuro (o conceito do "taxpayer"), como também não enxergamos nem o que acontece no presente?
A gente não pode deixar o medo de a oposição ser pior influenciar nosso conceito real de qualidade. Só porque antes éramos cachorro magrelo de rua passando frio e fome não significa que o mendigo bêbado, que nos deu um caixote pra dormir e migalhas de pão mofado pra comer, seja um excelente dono!
Até digo que a equipe do governo tem gente que sabe do que está falando. Mas Lula pra mim passa a mesma (falta de) confiança que o Bush. Com a diferença que ele pelo menos não arranja guerra do nada...
PS: Falando em guerra, esqueci de comentar no post anterior: reportagem no Rio de Janeiro mostra que há 1 tiroteiro a cada 2 dias na cidade. E em média tem quase 1 pessoa tomando tiro por dia na cidade (150 mortos e 163 feridos = 313 vitimas em um ano de 365 dias). Enquanto isso, começaram a implantar o esquema de aluguel de bicicleta baseadas na de Paris (que eu havia comentado aqui no blog).
Muito bom texto e questionamentos Eduardo...
ResponderExcluirVocê pode não ser economista - pelo o que você falou no comentário - mas entende como funciona...
Esse "devo ou não nego, pago na próxima geração" é modelado na teoria econômica como equivalência ricardiana, i.e., uma política fiscal expansionista - redução de impostos - não teria nenhum efeito porque as pessoas saberiam que o governo terá de compensar isso no futuro com o aumento de impostos, dai que, ao invés de gastar o dinheiro obtido com o alívio fiscal, elas poupariam esse dinheiro para pagar os impostos futuros.
Essa teoria adota a hipótese de expectativas racionais, que é bastante forte e se resume, basicamente, ao seguinte: as pessoas otimizam toda a informação possível. Em outras palavras, elas utilizam toda a informação disponível, inclusive as referentes a política econômica...
Sobre isso, faz sentido pensar que o brasileiro é diferente do europeu? Não sei dar uma resposta definitiva, mas uma pista pode ser nosso histórico de inflação... O Gustavo Franco tem um paper interessante sobre isso ("Auge e declínio do inflacionismo no Brasil", disponível em www.econ.puc-rio.br/gfranco). Ou seja, por aqui tem-se a ilusão de que o governo cria dinheiro do nada...
Mas, enfim... ponto de vista interessante... vou inclusive colocar um post sobre isso...
Sds,
VW
Nada como conversar com quem sabe. "Equivalência ricardiana", não esqueço mais! :-)
ResponderExcluirCritico o presidente em umas coisas mas eu acho sinceramente que essa medida de reduzir o imposto de renda na fonte faz muito mais sentido do que o plano do governo britânico.
R$50,00 a mais no bolso do trabalhador todo mês gera muito mais vontade de gastar do que o fato de que um produto que custava 10.00 agora custar 9.75...
Pois é Eduardo...
ResponderExcluirAté mesmo a teoria neoclássica (a mais contrária a intervenções do governo na economia) prediz que reduções de imposto de renda geram deslocamentos na curva de oferta da economia (o tal do PIB)...
No comentário no meu blog vc escreveu que "o brasileiro não é bom poupador"... Então, é interessante vc dizer isso porque o Keynes escrevera sobre isso em sua maior obra - a Teoria Geral - predizendo que economias de renda baixa e média possuem a tal "propensão marginal a consumir" mais alta. A idéia é justamente essa que vc pensou:de cada R$ 100,00 em reduções de IR é bem provável que um percentual bem significativo vá para o consumo...
Isso, claro, em teoria...
A prática pode ser outra pelo seguinte: um dos fatores que condicionaram o crescimento dos últimos anos foi justamente o aumento do crédito a pessoa física (principalmente após o fenômeno do crédito consignado). Assim, é preciso considerar uma hipótese: será que as pessoas não estão se aproximando do limite individual de endividamento, a ponto de o alívio fiscal de IR não ser usado para pagamento de dívidas ou para outra coisa que não seja consumo? É possível pensar que sim.
Além disso, tem o fator do tamanho do pacote. Estima-se no total pouco menos de R$ 10 bi, para uma economia de quase R$ 3 tri. Pouco não?
Enfim, apenas algumas hipóteses...
Sds,
VW