segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

A horrível comida inglesa? - parte 2

Continuando o assunto de semana passada, dessa vez vou além: provo pra vocês que até os ingredientes podem não ser daqui. Todo alimento vendido aqui tem logicamente toda aquela informação nutricional e de fabricação/validade que a gente conhece. Mas além disso, tem sempre estampada também a ORIGEM do produto. É mais do que comum a comida do supermercado vir de diversas outras partes do mundo, menos daqui. Isso ocorre por diversos motivos: econômico (pode ser mais barato importar determinados produtos), disponibilidade (ou não é produzido aqui ou está fora de época), variedade (pra dar mais opções ao consumidor), qualidade (o de fora às vezes é melhor e mais barato) etc.

Seguem algumas fotos dessa verdadeira "globalização alimentar":

Acima, morangos vindos do Egito. Certamente por estarem fora de época aqui no momento, já que morango britânico é excelente e sempre tem em abundância em tudo quanto é mercado durante o verão



Manjericão de Israel


Brócolis da Espanha

Tomate da Espanha


Pimenta de Zambia(!)


E sim... Cebola britânica! Geralmente com bandeirinha pra mostrar orgulhosamente que é produto local e que ao comprá-lo você está contribuindo para as empresas, famílias e o "countryside" daqui.


Há também quem reclame de frutas em geral e realmente muitas podem não estar tão amadurecidas quanto gostaríamos. Provavelmente é porque algumas vêm de longe e vale mais à pena colhê-las um pouco mais cedo pra que chegue em boas condições aqui. Mas é só deixá-las amadurecer um pouco em sua casa que está tudo certo. O mesmo fenômeno portanto acontece: a gente aqui por exemplo compra uvas e mamão papaia com frequência. Quer saber o que geralmente vem escrito no pacote de ambos? "Produce of: BRAZIL"!!!

Ou seja, se quiser você NUNCA come nada típico britânico, então isso não é desculpa! Se quiser pode até comer arroz e feijão todo dia. Arroz pode ser "Uncle Ben's" mesmo e feijão preto eu reparei que geralmente vem da China e é excelente (tão bom ou melhor que o do Brasil).

Agora fala pra mim: como que a comida daqui é horrível se a comida nem daqui é? Ah tá, é a cebola que está atrapalhando. (risos)

Restaurantes

Restaurante também tem de tudo quanto é tipo. Muitos são caros é verdade, e talvez a grande diferença no Brasil é que costuma haver opções baratas e de boa qualidade (ou quase). Nada como um bom "PF" naquele lugar minúsculo da esquina pagando menos de R$5,00, né?

Mas por aqui alguns são acessíveis sim para um ocasional jantar ou almoço de fim de semana. Comparação simples:

Se você for jantar em uma "Parmê" no Rio de Janeiro, paga no mínimo R$25,00 por pessoa (o que é cerca de 6% do salario minimo bruto mensal).
Se você for em um "Strada" por aqui, paga uns £15,00 ou £20,00 por pessoa (cerca de 2% do salário mínimo mensal), o que pra mim significa que o custo é próximo.

Isso em 2 "courses" (entrada e prato principal, ou principal + sobremesa) e bebida. E eu acho que o Strada (uma cadeia de restaurantes italianos daqui) tem massas muito saborosas, de qualidade igual ou superior a Parmê no Rio por sinal.

Agora:

- se você no Brasil vivia com os pais e mamãe que cozinhava;
- se no Brasil você era classe média e na Inglaterra nem perto;
- se ninguém onde você mora tem interesse em cozinhar;
- e se na Inglaterra você precisa comer o mais barato possível sempre porque está contando centavos por algum motivo...

... aí você está comparando 2 situações de vida completamente diferentes, né? Você mudou de estilo de vida, de classe social, de cozinheiro(a)...

Pense bem: a mudança de país em si foi a que menos impactou na sua alimentação!!

Dica? Assista a ao menos um dos diversos programas de culinária na TV, compre um livro de receitas e aprenda a cozinhar pelo menos o básico. Reclamação sem fundamentos não vai te levar a lugar algum...


PS1: Lógico que se você quiser comer carne de sol, rabada, acarajé, beber açaí de manhã, água de coco no almoço e chimarrão à tarde todos os dias como você fazia (mesmo?! todo dia?!) no Brasil, aí não vai dar. Mas se você não tem um mínimo de flexibilidade, vale uma reflexão: tem certeza que nasceu pra viver fora do país?

PS2: E além de tudo não perco meu tempo fazendo compra de mês em supermercado nem carregando bolsas. Compro tudo on-line!



6 comentários:

  1. Olha Ed, você tem razão em muitos pontos, mas esqueceu do real motivo pelo qual as pessoas reclamam. Quem trabalha fora de casa e precisa comer na rua, essas pessoas ou vão comer mal ou vão gastar muito. Não tem jeito, a cultura aqui é sanduíche gelado, não existe buffet a quilo com preço acessível, como no Brasil. Além disso é sempre difícil achar um bom local pra comer, tem lugares que cobram mais caro se você quiser sentar na mesa. Quando não cobram, tá sempre cheio e não dá pra sentar. As praças no inverno são muito frias. Por isso a cultura aqui é comprar um sanduíche tosco e levar pra comer na mesa do trabalho. O problema não é de acesso a comida no supermercado, mas sim da CULTURA britânica de não valorizar o momento da alimentação, de comer qualquer coisa rapidamente, etc. Se você vai na Itália ou França, ocorre o oposto. Lá existe uma valorização e respeito muito maior para hora de comer. Enfim, acho que você escreveu muito bem os artigos, mas o problema de alimentação no Reino Unido existe, não dá pra tapar o sol com a peneira! Abraços, LD

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  2. LD,

    Você tem toda a razão. Acabei não chamando a devida atenção sobre isso pq o post já estava ficando meio grande demais.
    Um dos problema é tradicional a inversão da prioridade das refeições. Almoço no trabalho não é importante, jantar (em casa) que é. Então cai nessa questão do "sanduíche tosco na mesa do trabalho" como vc falou muito bem.

    Mas se você reparar até que já tem bastante gente comendo nos restaurantes por aí durante o almoço. Muitos lugares fazem preço especial de almoço, e nas cadeiras de "gastropubs" há opções legais por preço decente. Dá pra pagar uns 3-4 pounds pra almoçar no Harvester por exemplo, o que pra quem ganha na média é acessível... nem q seja só umas 2-3 vezes na semana.

    Obrigado pelo comentário. Agora nem preciso escrever sobre isso: vc complementou perfeitamente o artigo!!

    Cheers,
    Ed

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  3. Oi Ed, quando cheguei aqui (em set/2007) e minha filha foi pra nursery da universidade, foi um nó na cabeça pra planejar o almoço a ser levado todos os dias (eles só oferecem snack de frutas no meio da manhã e outro à tarde). Minha filha adora arroz com feijão. Porém, existe uma "guideline" de saúde aqui que o pessoal da creche não pode reaquecer arroz porque pode conter bactéria. Ou seja, só posso colocar arroz se ela comer frio. Em conversa com o pessoal da creche, percebi que as outras crianças levam mesmo é sanduíches (saudáveis, verdade, mas...) muita pasta e realmente a refeição principal fica pra de noite, em casa. Na semana passada fizeram uma reunião com os pais para alertá-los de que há uma outra "guideline" que os obriga a aquecer as refeições das crianças a 73 graus no microondas por não sei quanto tempo e elas estão preocupadas (com razão) com o real valor nutritivo dessas refeições após o aquecimento. Nossa opção agora é não enviar nada pra ser re-aquecido ou aquecer a comida em casa e colocar em uma marmitinha que aguente por umas 4 hs. Complicado, viu? Abraços, Cristina

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  4. Oi Cristina,

    Interessante o teu caso.
    Mas olha... acho que é meio específico da nursery da sua universidade aí hein. Pq minha filha vai pra nursery e no almoço tem comida "normal" (ou seja, quente e no prato), com macarrão, peixe, batata, etc. Que eles mesmo oferecem. E olha que ela só fica lá na parte da manhã (quando a gente vai buscá-la às 1PM ela já almoçou).

    Ou será que é específico da nursery daqui? (risos) Tudo é relativo.

    Abraços.

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  5. Tem nursery que fornece almoço, às vezes até feito lá mesmo, infelizmente não é o caso da nossa, em que os pais é que fornecem a refeição. E neste caso, elas têm que seguir as tais guidelines. Mas eu vou realmente comprar a tal marmitinha pra garantir uma comida feita em casa do nosso jeito. E de vez em quando, claro, por que não, um sanduichinho, pra ela não se sentir também um ET, né? E olha, aproveitando, se vcs quiserem vir conhecer Brighton, entre em contato. Abraços. Cristina

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  6. vou para inglaterra este ano ! muiiito anciosa ....e com um pouco de medo, mas acho q vou me dar bem com a culinaria la

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